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Livros e Café

Quando criança ela gostava de deitar na grama e olhar o vento balançando as folhas das árvores, isso sempre a acalmava. Ela também gostava de seu guarda chuva vermelho e a maneira como ele fazia contraste com o cinza da cidade, e fazia perguntas sem sentido para sua mãe, como:" Quando os vagalumes morrem eles viram estrelas no céu?". Era uma criança feliz, com uma mente aberta e imaginação solta, gostava de entrar na livraria "Livros e Café" e passar os dedos nos livros, enquanto sua mãe pagava o café.
Ela cresceu e se tornou uma moça diferente, não era fã de muita maquiagem, raramente usava vestido e era muito seletiva com relação a música, seus gostos eram bem particulares. Ela ainda gostava de guarda-chuvas vermelhos e adquirira o hábito de sempre ir na "Livros e Café", seu lugar preferido no mundo, agradecia em seu intimo por nunca ter sido fechada e ainda preservar o aspecto que tinha quando ela ainda era criança. Agora alimentava sua mente com poesia. As vezes ela sentava em uma das mesas da livraria e ficava com um livro aberto e acompanhada com uma xicara de café, quando desviava os olhos do livro observava em  volta  e fitava os rostos das pessoas como se tentasse descobrir seus pensamentos. Todos já estavam acostumados com sua presença, e a achavam um pouco estranha, menos o dono da livraria que a conhecia desde sua infância, ele achava graça e dizia que era sua freguesa mais fiel.
Certo dia ela estava passando os dedos na sessão de livros de poesia, e em sua distração esbarrou na mão  de outra pessoa. Assustada  levantou o olhar depressa  e encarou o rosto... Era um rapaz, alguém que ela nunca vira por ali, ele pareceu tão surpreso quanto ela sobre o breve contato, e sem saber como agir sorriu meio torto. Ela simplesmente sorriu de volta, pegou o livro que procurava e saiu sem encara-lo de novo, por algum motivo ela sentiu o rosto quente e o coração pular muito rápido e esse tipo de coisa era nova para seus sentidos.
E nos dias que se seguiram o rapaz  passou a vir para tomar café, e ela percebeu, ele sempre fazia anotações no guardanapo e lhe sorria quando os olhares se encontravam. E houve uma semana que ela não apareceu em nenhum dia, e apenas duas pessoas sentiam sua falta, o dono da "Livros e Café", e aquele rapaz de cabelos encaracolados e sorriso torto. A sessão de poesia ficará vazia sem sua presença.
Então num dia chuvoso e frio ela apareceu na livraria com seu guarda-chuva vermelho, e que não fora tão eficaz em seu propósito já que sua roupa estava um tanto molhada e seu cabelo bagunçado. Ela o repousou perto da porta, e sem olhar para ninguém foi direto para as prateleiras de livros. Pegou 1,2,3,4,5 livros, e os levou para o caixa, no qual o dono estupefato lhe perguntou: " Irá levar todos esses?", ela apenas acenou com a cabeça confirmando. O rapaz se levantou da mesa onde estava e ficou ao seu lado, a olhando, sorrindo, e isso a deixou um pouco nervosa, de repente ele se dirigiu ao dono que estava passando o ultimo livro na registradora: " Por favor, dois café! Um para mim e outro para esta moça, me parece que ela esta com um pouco de frio, um café irá esquenta-la", sim ela estava com frio, mas quem lhe dera permissão para pagar um café?
O dono olhou para ela, meio confuso se colocava os livros em uma sacola e lhe dava o troco, ou se ia logo pegar o café, por fim pegou duas xícaras para servi-los. " Sente-se comigo, a chuva irá demorar para passar e poderá tomar seu café!" isso a deixou completamente desconcertada, mas não viu como recusar a proposta, o mundo parecia estar acabando la fora.
Sentaram-se na mesma mesa, ela colocou os cinco livros empilhados a sua frente, e isso bloqueou a visão de ambos, o rapaz afastou os livros para o lado, e assim ela pode perceber o seus olhos castanhos sorridentes, e todo receio sumiu de sua mente, agora ela se sentia bem. Tomou um gole do café quente, e olhou para fora a chuva caia constante. Ele lhe sorria todo tempo. Falaram da chuva, de poesia, dos livros em suas casas, de música, e coisas engraçadas e tudo o que ele disse a agradou, como se naquele dia tivesse encontro alguém que em maneiras se parecia com ela. As horas se estenderam dentro daquela livraria, a chuva cessará, as ruas foram lavadas e os dois não haviam percebido isso, como se estivessem distantes do mundo.
Era quase hora do jantar, quando o dono lhes disse que iria fechar, ela empilhou os livros no colo, mas ele educadamente se ofereceu para carregá-los. Sua casa não era muito longe dali, apenas uns vinte minutos de caminhada, assim o assunto entre eles se estendeu até pararem a frente de sua porta. Com cuidado ele repousou os livros nos braços dela, se olharam por alguns segundos,  ela agradeceu,  e então se despediram.
Mais tarde enquanto folheava um dos livros que comprara,  caiu dele um guardanapo de papel, havia algo escrito nele a caneta a letra era bonita. Aproximou mais dos olhos e leu :" Volto la todo dia só pra te ver, você vai me achar um louco, ou estranho, mas não consigo te esquecer"...
 Ela sorriu sozinha, e pensou consigo mesma " não é estranho, é só diferente", como isso agradou.
E agora posso dizer que outros dias se seguiram, com encontros na "Livros e Café", e duas pessoas la dentro tinham certeza que haviam tido uma grande sorte, naquilo que chamam de acasos, talvez esta história vire poesia num livro.


( Nathy Cayres - O meu lado da História )


Fotografia: Bruna dos Anjos

3 comentários:

  1. Own obrigada por postar meu texto no cantinho de vocês, realmente muito gratificante! Amei as fotografias, obrigada Bruna!
    beijos

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  2. Que bom que vc gostou....
    Não podemos deixar passar textos tão belos quanto este.
    Beeeijo...

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